O Motelx continua a surpreender-me positivamente. Desta vez, não com a descoberta do cinema português no seu melhor, mas com um dos tesourinhos ocultos do cinema americano - um filme de George A. Romero, que virá ao festival no Domingo. "Monkey Shines", de 1988, o ano em que nasci, foi um delicioso prazer para os meus sentidos e espírito mais sombrio. Já não se fazem filmes como este.
A premissa é tão improvável que torna todo o filme numa experiência inesquecível, como ir ao sotão dos avós e descobrir os brinquedos deles. Esta é a história de um atleta, Alan Mann, cuja vida muda abrupta e terrivelmente ao ser atropelado, ficando tetrapelégico. Perante esta drástica mudança na sua vida, cede à depressão e desespero. Um amigo seu, Jeff, o qual, por acaso, trabalho num "laboratório químico" e faz "experiências" com macaquinhos como cobaias, encontra a solução para os problemas de Alan e os seus. Perante o risco de perder financiamento para o seu trabalho, Jeff precisa que a sua cobaia predilecta, uma macaquinha fêmea, interaja com humanos para potenciar as suas capacidades intelectuais. Assim, a macaquinha, após ser treinada pela sensual Melanie, vai viver com Alan, de forma a auxiliá-lo com as tarefas quotidianas. Esta parece ser uma relação prometedora, visto que entre homem e macaquinha nasce uma bonita relação de amizade (poder-se-ia até dizer amor). Porém, Alan começa a ter uns sonhos "bastante esquisitos" em que parece sentir e ver o mesmo que a macaquita quando foge de casa à noite e, para piorar a situação, todos aqueles com quem Alan se irrita acabam eventualmente por sofrer as consequências... morrendo!
Um filme destes é cómico e divertido pela sua simplicidade, sem deixar de estar muito bem filmado e ter um argumento sincero e humilde, que nunca pretende chamar "estúpido" ao espectador. Foram filmes destes que me atraíram para o encantador mundo das Ciências, em que tudo parece perigoso, extravagante, ambicioso, em constante aventura e descoberta. A realidade das ciências é e não é assim, por diversas razões que não são nada chamadas para aqui. Estamos a falar de cinema. O que eu quero dizer é que a imaginação humana é encantadora e dou os meus parabéns a Romero (admito que quase não conheço nenhum filme dele, à excepção d"A Noite dos Mortos Vivos") pela sua genialidade, ao pegar num interessante facto real - a universidade de Boston treina macaquinhos para auxiliar tetrapelégicos nas suas tarefas - e transformá-lo numa história macabra que mistura o terror, a ficção-científica no seu melhor, e a comédia, completamente descomplexado e seguro de si. Apareçam mais Romeros, se faz favor, que sente-se falta de imaginação e muito pó nas ventilações do Cinema.
E por falar nisso, é irónico que devido a problemas de financiamento o próprio Romero só tenha feito filmes de zombies na última década... Ele próprio admite que prefere fazer muitos filmes de zombies com o pouco tempo de vida que ainda tem pela frente, do que esperar eternamente pelo dinheiro para concretizar outros filmes e ideias. http://ipsilon.publico.pt/Cinema/texto.aspx?id=266407
É pena que nem aquele que eu estive a elogiar consegue escapar. Esperemos que com "Inception - A Origem" os estúdios ganhem coragem para arriscar mais.
















Acrescento ainda que achei extremamente corajoso terem pedido a verdadeiros cidadãos desempregados para interpretarem o momento em que as suas personagens perdem o emprego. Não há uma única gota de representação nas caras daquelas pessoas. É impressionante pela coragem que elas tiveram, submetendo-se a reviver aquele momento, e pela de quem fez o filme e as convidou a participar. As músicas da banda sonora são perfeitas para o tom da história e a última canção a passar nos créditos finais... bem que merecia uma nomeaçãozita ao oscar de melhor música. Quando a ouvirem, perceberão porquê.



Além disso, o argumento do filme foi publicado na Internet! O guião escrito por James Cameron está assim à disposição de todos, cheio de cenas que nem aparecem no filme, começando logo por uma cena inicial, diferente daquela a que tivemos acesso nos cinemas, mas que provavelmente poderemos ver em DVD, e uma cena de sexo entre os dois protagonistas, que também foi cortada do filme, permitindo que aquele momento fosse mais íntimo para as duas personagens, uma vez que a polémica à volta de tal momento entre duas criaturas extraterrestres provocaria uma polémica que desviaria a atenção dos espectadores da história.
Além disso, tal como acontece em todos os filmes que atingem valores recordes de bilheteira, os boatos e polémicas à volta do filme multiplicam-se. Enquanto que The Dark Knight - O Cavaleiro das Trevas era criticado por se aproveitar da morte de Heath Ledger para o atingir o sucesso (apesar de hoje já toda a gente estar de acordo que o filme é bom por mérito próprio), Titanic por desonrar a memória de algumas das personagens reais do filme (como a do capitão) e pelo grito de vitória de James Cameron quando recebeu o Oscar "I'm the king of the world", imitando a personagem de Leonardo DiCaprio no filme, os filmes d'O Senhor dos Anéis por transformarem a visão de J. R. R. Tolkien numa amálgama de efeitos-especiais, Avatar é acusado de plágio por todo o mundo, de fazer mal às crianças por causa da tecnologia 3D e à violência visual de certas imagens (algumas criaturas são realmente assustadoras e a batalha é brutal), e... oiçam o rufar dos tambores... de causar depressão e ideias suicidas nos seus espectadores.


