segunda-feira, 3 de maio de 2010

Away We Go - Um Lugar Para Viver


É verdade que eu sou um fã do Sam Mendes, realizador de um dos meus filmes preferidos - Beleza Americana - e até consegui gostar do emocionalmente arrasador "Revolutionary Road". Daí que não seja surpresa que eu diga bem deste Away we Go, e que eu já estivesse à espera da sua estreia em Portugal há quase um ano. No entanto, já o vi e adorei e acho que, a par com o filme de Clint Eastwood "Invictus", é um dos filmes Feel-Good do ano passado.

A história não podia ser mais ternurenta e os protagonistas mostram-nos o amor que os une e fazem-nos apaixonarmo-nos por eles e reavivam a esperança na paixão. Finalmente, um filme que não é meloso e nos faz acreditar que estes sentimentos são reais e existem!

John Krasinski (The Office, Amar é Complicado) usa a sua veia mais cómica, com muita naturalidade, enquanto que Maya Rudolph (Saturday Night Live) nos presenteia com uma personagem mais doce e profunda. Estes são um casal que tem um filho a caminho e procuram um lugar para viver. Pelo caminho, vão-se cruzando com os mais estranhos e irreverentes casais, tentando decidir onde querem viver. E enquanto que ao início, em cada lugar, estes casais nos parecem delirantemente perfeitos, tudo se prova ao contrário. Não há famílias perfeitas, nem vidas perfeitas. Há pessoas. A maioria anda perdida, sem saber bem o que anda a fazer no mundo. Outras sabem, mas não conseguem atingir o que mais desejam e tentam sobreviver à dureza da vida. E esta torna-se uma jornada de auto-conhecimento e amadurecimento e consolidação do amor destas duas adoráveis personagens.

Para mim, este foi o filme mais ignorado de Sam Mendes até agora, por ser uma comédia indie de baixo orçamento e totalmente despretensiosa, e o seu melhor desde que se estreou com "Beleza Americana" que lhe valeu o oscar de melhor realizador e o lançou para a ribalta. Talvez mesmo por ser tão despretensioso. Fez este filme para si próprio. Está no extremo oposto do seu filme anterior "Revolutionary Road" em que as personagens se precipitavam para um vácuo existencial nas suas vidas. "Away we Go" é sobre esperança e amor e aprendizagem e vida e tudo o mais.

Catherine O'Hara é uma actriz genial, que já tinhamos visto em "Juno", como a protectora madrasta de Juno, e que aqui nos consegue roubar algumas das mais delirantes gargalhadas em todo o filme. Neurótica e extravagante, tem algumas das atitudes mais irreverentes e diz algumas das maiores barbaridades, chegando a comparar as suas mamas aos tomates de um velho. As lágrimas escorriam-me pela cara, de tanto rir, por causa dela.

Maggie Gyllenhaal presenteia-nos com mais uma personagem louca e deliciosa. Politicamente incorrecta, hippie e adoradora da mãe natureza, leva os protagonistas ao limite, chegando a fazê-los perder a cabeça com ofensas que ela vai proferindo, alienada da realidade. Na verdade, eles quase lhe deviam agradecer, pela forma como se tornaram ainda mais unidos depois de se cruzarem com ela.

Termino com um apontamento a um dos últimos casais com que eles se cruzam na sua viagem. Melanie Lynskey e Chris Messina representam um dos momentos mais Heart-Breaking do filme. São talvez aqueles com que o nosso casal mais se identifica, e apesar de inicialmente parecerem viver em felicidade e harmonia, acabamos por nos aperceber da tristeza que lá está patente. No entanto, também estes se amam verdadeiramente e é esse sentimento, no qual empenham tanto do seu esforço, que os mantém unidos apesar de todas as amarguras. E, por favor, quando virem o filme, tomem atenção a uma das melhores metáforas de sempre para explicar o amor. É um dos momentos mais ternurentos e deliciosos do filme.

Vejam, apreciem e apaixonem-se. Não deixem de se apaixonar.

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