segunda-feira, 29 de junho de 2009

Terminator - Salvation



Oi Pessoal!
Boas novas. Este fim-de-semana consegui satisfazer o meu ego cinéfilo e fui ver mais um blockbuster deste verão. Um que tem sido pouco acarinhado pela crítica e ignorado pelo público americano... O que é uma pena...
"Exterminador Implacável: A Salvação" não é uma obra de arte, nem vai ficar para a história do cinema. Não é tão bom como o primeiro e segundo capítulos desta tetralogia. Todavia, é uma boa peça de cinema, bastante bem conseguida, tendo em conta o desafio e as dificuldades em fazer justiça aos seus predeceçores (esqueçamos o terceiro filme, por agora). Convenhamos... são poucos os realizadores que estão à altura da genialidade de James Cameron, que além de ter assinado os dois primeiros filmes, cujas histórias foram 100% produto da sua imaginação, também realizou Aliens e Titanic.
Desta forma, o peso sobre os ombros de McG, realizador de "Anjos de Charlie", era substancial. E safou-se relativamente bem! Conseguiu desenvolver uma história interessante, aproveitando a premissa, as personagens principais e pouco mais. Passa-se em 2018, depois do Dia do Julgamento, em que as máquinas destruiram o mundo com as nossas armas nucleares e iniciou-se a guerra contra os humanos. John Connor (Christian Bale) não é, ainda, o líder da resistência, sendo encarado pelos outros sobreviventes como uma espécie de profeta, escapando ao cliché que se previa. Entretanto, temos Marcus Wright, interpretado por Sam Worthington (do qual irei falar daqui a uns tempos), um assassino que em 2003, antes do Dia do Julgamento, está no corredor da morte e doa o seu corpo para um laboratório de pesquisa contra o cancro, a pedido da Drª Serena Kogan, interpretada por (surpresa!) Helena Bonham Carter (Fight Club, Sweeney Todd). Inexplicavelmente, Marcus acorda em 2018 e... é uma máquina, apesar de não o saber.
Sam Worthington rouba o protagonismo a Christian Bale, o qual é um John Connor competente, apesar de lhe faltar qualquer coisa... Talvez o carisma de um líder... De qualquer forma, interpretam ambos personagens ricas, perante dolorosos dilemas, o que recupera um pouco do espírito filosófico dos primeiros filmes. Mas apenas um pouco. Falta alguma intensidade às personagens e um argumento mais atento aos sentimentos e motivações destas.
Finalmente, termino dizendo que as personagens femininas foram todas sub-aproveitadas. Teria sido muito interessante explorar um pouco mais da atracção de Blair Williams (Moon Bloodgood), uma mulher lindíssima, com um delicioso ar felino, por Marcus Wright. Kate Connor, ao ser interpretada por Bryce Dallas Howard (brilhante em "A Vila"), devia ter sido muito mais desenvolvida, sendo neste filme apenas a mulher de John Connor e médica das tropas da resistência. Uma actriz com o calibre dela, merecia mais.
Não vale a pena falar muito dos efeitos especiais. São dos mais realistas que eu já vi. Basta dizer que Schwarzenegger aparece, trinta anos mais novo, apesar de não ter participado neste filme. Soberbo! Fiquei perplexo.
Assim, lamento que este filme não tenha mais sucesso, porque vale realmente a pena ser visto e revisto, mesmo tendo em conta os seus defeitos. Mas tendo em conta que é realizado pelo McG, o resultado poderia ter sido muito mau. Assim, admito, eu sou fã destes filmes e não fiquei decepcionado. Mete o "Exterminador Implacável3 - A Ascensão das Máquinas" num sapatinho.
Venha o próximo, porque a guerra ainda não acabou.
Deixo aqui dois clips do filme:

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Star Trek


Oi pessoal,

Tem sido difícil ir ao cinema, mas finalmente consegui, esta semana. Como o filme tem acolhido boas críticas e estava quase a sair dos cinemas, decidi ir ver o Star Trek e dificilmente teria ficado mais satisfeito.

Não conheço o universo trekkie, mas tal também não é necessário para apreciar este filme. Basta boa disposição, sentido de humor, boa companhia e querer descontrair durante duas horas.

Este filme regressa às origens da saga, de modo a que ficamos a conhecer as origens das duas personagens principais: Spock (Zachary Quinto) e Jim Kirk (Chris Pine). É o reinventar de uma nova saga. A ameaça surge por parte de Nero (surpresa das surpresas: interpretado por Eric Bana) que pretende destruir todos os planetas pertencentes à Federação, incluindo Vulcan, o planeta de Spock, que é destruído, e o planeta Terra, obviamente.

Vou começar por elogiar o elenco, escolhido na perfeição para criar um filme que pretende, acima de tudo, divertir e sacudir o pó de uma série de filmes esquecidos e de uma fórmula gasta. Somos prendados com personagens jovens, em topo de forma, rebeldes e sem medo de ir à luta. Chris Pine interpreta um James T. Kirk revoltado (em parte por ter crescido sem o pai), conflituoso e com um carisma a que poucas damas resistem. Dentro deste restrito grupo, está Zoe Saldanha, que interpreta Uhura, e se torna irresistível precisamente por ser imune ao engate de Kirk (além de ser extremamente sensual). Zachary Quinto interpreta um Spock que cresceu com a discriminação de ser filho de um pai vulcano e uma mãe humana (interpretada por Winona Ryder, e eu nem a reconheci), sobrepondo a lógica a todas as emoções. É desta antítese entre as duas personagens principais que nasce uma relação de desprezo e rivalidade, que depois evolui para uma relação de entre-ajuda, amizade e respeito, conforme se vão conhecendo. Entretanto, a espectacular parada de actores prossegue com Jennifer Morrison, actriz conhecida por interpretar a Drª Cameron na série "House", como a mãe de Kirk no início do filme, Eric Bana (quase irreconhecível) como o rancoroso, negro e vingativo vilão, Bruce Greenwood (National Treasure; Capote) como Capitão Pike, Simon Pegg (fantástico actor cómico britânico) e até temos direito ao regresso de Leonard Nimoy à saga, num momento revelação do filme.

De resto, tenho a dar os meus parabéns a J. J. Abrams, que depois das séries "Lost" e "A Vingadora", e de "Missão Impossível 3" e "Cloverfield", conseguiu o que muitos considerariam impossível, fazendo renascer esta fénix das cinzas (pode parecer exagero, mas devem concordar comigo quando digo que a série estava morta e este foi um renascer em grande estilo). A história é consistente, com temas como a discriminação, a vingança e a extinção das espécies (!), as personagens são bem desenvolvidas, o ritmo do filme é constante, com acção trepidante e adrenalina nas doses certas, e os efeitos especiais são topo de gama.

Para ver e rever. É bestial. Aqui está um dos trailers, para ficarem com um cheirinho...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Wesley Snipes e a Cultura...



Oi pessoal,

Venho aqui queixar-me da nossa televisão nacional! No passado sábado à noite, enquanto devia estar a estudar para os exames desta semana, fiz um pouco de zapping e fiquei alucinado.

Na RTP1, estava a dar o Saw3... Não gosto do filme. Gostei do primeiro, uma espécie de filme de terror psicológico, com dois homens a tentar sobreviver a qualquer custo, mas tudo o que fizeram nos filmes seguintes foi transformar a premissa numa espécie de "quebra-cabeças" (ou "Jigsaw", se preferirem) com sangue e tripas. Para onde foi o terror? Só mete nojo!

Agora, a cereja em cima do bolo, ou do gelado, porque faz calor: Na SIC estavam a passar um filme do Wesley Snipes! E como se isso não fosse suficientemente mau, na TVI estavam a passar... Outro filme do Wesley Snipes! Pareciam réplicas um do outro! Em ambos, ele tinha o mesmo ar inexpressivo (que pretende ser de durão, mas na verdade é só falta de personalidade) a contracenar com uma actriz boazona com falta de talento. A da SIC era latina e bem boa, a da TVI era loura e pouco interessante. hehehe. Em ambos os filmes as gajas estavam sempre a mandar-lhe bocas e "odiavam-no" enquanto ele as tratava abaixo de cão. Claro que aquilo é só feromonas e depois começam a falar sobre o passado, ficam enternecidos um com o outro e vão p'á cama! Entretanto, tinham perseguições com carros baratos, mal filmadas e coreografadas, com gritos histéricos e os clichés do costume: carros a ir contra mercados, para atirar flores e fruta pelo ar, e depois há sempre alguém que vai numa mota e bate contra o carro... Enfim... Tudo tão mau e privisível quanto as telenovelas que passam depois do jantar. Até o meu irmão de 13 anos conseguia prever o que ia acontecer a seguir, e não se enganou uma única vez.

Decidi mudar de canal, apesar de aquilo ser tão mau que prendia a atenção, e naveguei pela TVCabo. E não é que nos canais TVCine estavam a passar dois clássicos do cinema? O Padrinho e o Padrinho III.

O que é que eu posso concluir daqui? Só quem tem acesso a melhores meios de comunicação tem direito a cultura? Quem não tem TVCabo não pode ver bom cinema na televisão? E o que é que o Wesley Snipes anda a fazer na televisão? Depois dos filmes do Blade, não fez mais nada além de filmes directos para DVD... E ainda bem, porque não queria ver gente a desperdiçar dinheiro com filmes deste tipo no cinema. Francamente, um tipo que pensa que filmar um filme de acção com a câmara de pernas para o ar é uma boa ideia, nem devia receber um tostão.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Shit#2



Oi pessoal,
Num país em que a ditadura é uma ferida no nosso passado tão recente, é triste pensarmos que a censura subsiste, dissimulada, entre nós. A censura está nas nossas televisões, nos nossos jornais, nos nossos filmes e nas nossas escolas. Está por todo o lado! Tenham cuidado com a censura!

LOL.
Agora a sério. Um dos mais recentes excrementos do fabuloso mundo de Joel Pear passou precisamente pelo infame confronto com esta realidade. Quando pensava que vivia num país democrático, fui obrigado a renunciar à minha liberdade de expressão e a retirar um dos meus filmes (filmado na minha escola) do Youtube. Muito sinceramente, estou tentado a expôr o dito filme neste blog, mas não o farei, devido ao risco de represálias. Pelo menos, enquanto frequentar aquela escola. Aquela escola que eu odeio e cujo nome não vou mencionar por me dar tanto asco! Só falta um ano para terminar este curso merdoso, e, sinceramente, quanto mais depressa o terminar, melhor.

Mas a minha revolta é imensa, assim como a minha indignação.

Ora, quando o Youtube está cheio de vídeos filmados na nossa escola, alguns dos quais dentro das instalações, por que razão apenas o meu teve que ser retirado do dito site? Porque os outros videos tinham sido feitos por alunos do curso do presidente da escola! O meu filme não prejudicava em nada a imagem da escola, enquanto "instituição". Porém, feriu a sensibilidade de uma pessoa que viu no filme os defeitos que as instalações da escola tinham. Era um filme cómico, inocente, feito como trabalho de grupo para uma das disciplinas. E por não terem as instalações da escola em condições, eu é que tive que tive de retirar o filme da Internet, por medo de represálias... e digamos que a minha situação escolar está um pouco precária e é fácil obrigarem-me a ficar mais um ano...

Por que é que nos incutem estas merdas da liberdade, quando na prática, estamos todos fodidos e sob o controlo e opressão de quem está acima de nós? E depois temos que escolher entre sermos fodidos por obedecer e ir a favor da maré, ou sermos fodidos por irmos contra a maré... e nos afogarmos...

Remember, remember, the fifth of November...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Great Expectations - Shutter Island



Olá pessoal!

Não era sobre este filme que eu estava para vos falar, mas ao ver o trailer do novo projecto de Martin Scorsese, não resisti a partilhá-lo imediatamente com o povo.

Segundo o que pesquisei, este filme tem como personagens centrais dois U.S. Marshals, Leonardo DiCaprio (Diamante de Sangue; Revolutionary Road) e Mark Ruffalo (O Despertar da Mente; Zodiac) que embarcam até uma ilha remota, na costa de Massachusetts, para pesquisar a misteriosa fuga de uma paciente do hospital psiquiátrico dessa ilha, que se pode considerar mais uma fortaleza para guardar assassinos e perigosos psicopatas. Entretanto, um furacão abate-se sobre a ilha, impedindo-os de regressar a terra, altura em que se perde o controlo.

Ora, o trailer do filme (à vossa disposição no fim destas linhas) acrescenta mais uns detalhes sumarentos a esta simples sinopse.
Shutter Island não só é o regresso de Martin Scorsese como realizador desde que venceu os Oscares de melhor filme e realizador pelo (abismal) The Departed - Entre Inimigos, como é a adaptação de um livro de Dennis Lehane, que escreveu Gone Baby Gone e Mystic River, também já adaptados ao cinema. É ainda de salientar que muitos dos melhores papeis de DiCaprio, desde que foi resgatado do Titanic, passaram por filmes de Scorsese (Gangs de N.Y., O Aviador e The Departed), o que promete mais um grande sucesso para os dois. O restante elenco é de grande qualidade, passando por Sir Ben Kingsley (Ghandy; Lista de Schindler), Max Von Sydow (Minority Report), Emily Mortimer (Match Point) e Michelle Williams (Brokeback Mountain e ex-mulher do falecido Heath Ledger).

Vindo de Scorsese, podemos contar com um dos mais intensos, assustadores, enervantes e arrasadores filmes do ano. E, quem sabe, de facto, o melhor filme do ano... Arregassem as mangas, pois o filme estreia nos EUA a 2 de Outubro. Se tivermos sorte, cá também.


Fica aqui o link para o site do filme: http://www.shutterisland.com/



terça-feira, 9 de junho de 2009

Great Expectations - Away We Go!



Olá pessoal,

Sam Mendes, luso-descendente, é um dos melhores realizadores da actualidade. Ganhou o oscar nessa mesma categoria com o seu primeiro filme: Beleza Americana, uma comédia negra sobre a vida nos subúrbios, um filme apaixonante. Os seus filmes são todos assombrados por uma aura de tragédia pessoal, e o filme que quase o levou aos oscares, no ano passado, Revolutionary Road, que valeu à sua mulher, Kate Winslet, um muito merecido globo de ouro como melhor actriz principal, foi o exemplo máximo desta tragédia. Um filme que é atravessado por mágoa e revolta e desespero até ao último segundo. Um verdadeiro pontapé no estômago.

Finalmente, Sam Mendes decidiu mudar de registo e fazer um filme mais doce, uma espécie de comédia independente e despretensiosa, fazendo lembrar o delicioso Juno.

Esta é a história de um casal que, enquanto espera pelo nascimento do seu primeiro filho, decide fazer uma viagem pelos EUA, tentando descobrir o verdadeiro sentido do termo "lar", com a ajuda de familiares e velhos amigos que já não viam há séculos. As primeiras imagens, à nossa disposição no trailer que circula pela Internet e que eu aqui disponho, são divertidas e cheias de um cheirinho a sinceridade. Os actores são, na sua maioria, desconhecidos, e os sentimentos que eles deixam transparecer pelo ecrã são puros e simples.

Prós: Sem dúvida o realizador e os actores. Vou destacar a presença de Allison Janney, que já vimos em Juno e Maggie Gyllenhaal (Donnie Darko, World Trade Center, The Dark Knight).

Contras: A facilidade com que pode passar totalmente despercebido pelos cinemas e o facto de só estrear em Portugal no Outono (o que até pode ser bom, porque há menos possibilidades de ser ofuscado pela torrente de blockbusters), apesar de já ter estreado nos EUA.

AWAY WE GO!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Great Expectations - 2012


Oi pessoal,
Tenho andado um pouco longe, visto que não tenho frequentado as salas de cinema. Portanto, decidi presentear-vos com novidades sobre o que está para vir.
Pode ser apenas a minha opinião, mas achei que o trailer deste filme era um dos mais cativantes dos últimos anos, com uma espectacular música que já tinha sido usada no trailer de um grande filme de terror: The Shining!
Além disso, os vídeos que um dos actores que participam neste filme, Woody Harrelson, tem andado a colocar na Internet têm sido um óptimo aperitivo para o film, assim como uma forma original de o promover e de o actor se transformar na personagem... Isto como quem diz... Podem ver os vídeos no seguinte link: http://www.thisistheend.com/
2012 devia estrear ainda este verão, mas foi adiado até ao Inverno, de forma a aprimorar os (provavelmente) espectaculares efeitos especiais e todo o trabalho de pós-produção, que são sempre os trunfos e as verdadeiras estrelas dos filmes de Roland Emmerich.
A história passa-se em 2012, ano em que os Maias preveram o fim do mundo e John Cusack é o cientista que lidera um grupo de pessoas que tentam combater os acontecimentos apocalípticos previstos.
Prós: Roland Emmerich é um especialista em cinema catástrofe, tendo realizado filmes como Dia da Independência, Godzilla e O Dia Depois de Amanhã. A presença de actores fortes como John Cusack, Amanda Peet (que voltam a contracenar depois de Identidade Misteriosa), Woody Harrelson (Assassinos Natos, Este País Não é para Velhos), Thandie Newton (Missão: Impossível 2, Crash - Colisão) e Chiwetel Ejiofor (Gangster Americano; Children Of Men) traz consistência a um projecto que facilmente poderia ser apenas um caro fogo de artifício (alguém se lembra de 10.000A.C.?)





Contras: Os mesmos que os anteriores. Roland consegue estragar todo um filme, com uma facilidade assustadora, quando tenta tornar um filme divertido para o público, além de ter uma estranha capacidade de esquecer as personagens e apostar tudo na destruição, esquecendo que isso só vale a pena se o público se identificar com os indivíduos que tentam sobreviver àquilo tudo. Na minha opinião, O Dia Depois de Amanhã foi o seu melhor filme e isto porque ele se concentrou um pouco mais nas personagens do que o habitual e decidiu torná-lo mais dramático e realista do que o inicialmente planeado (decisão esta tomada a meio das rodagens, o que exigiu que se reescrevesse uma porção substancial do guião). A presença destes actores, em especial Cusack, Peet e Harrelson podem ser indicadores de que o realizador voltou a optar por um tom mais cómico, área em que estes actores marcam pontos... O Fim do Mundo será divertido? Esperemos para ver... Será que os cientistas vão encontrar uma solução milagrosa para salvar o mundo? Esperemos que não... LOL

terça-feira, 2 de junho de 2009

Insomnia - Um Ensaio sobre a Insónia

Olá pessoal,
Imagino que já todos vós tenham passado por noites em branco, em que, não importa quantas horas estejam deitados, quantos comprimidos tomem, quantos carneiros contem ou quantas voltas na cama dêem, não conseguem adormecer.
Bem, minha gente, posso dizer desde já que fazer um blog pode ser uma boa maneira de ocupar o tempo, tomar demasiados comprimidos pode matar, contar carneiros é aborrecido e que quando pararem de dar voltas na cama e adormecerem, o despertador toca e têm que se levantar.
A insónia é caracterizada pela falta de sono ou pela dificuldade em adormecer por vários dias e pode ter diferentes durações (transitória - devido a stress ou excitação; curta - alguns dias, devido a stress grave despoletado por problemas emocionais como o luto; e longa - pode durar semanas, relacionada com depressão, stress crónico e abuso de drogas). Contudo, o resultado é sempre o mesmo - na manhã seguinte andamos cansados, irritáveis e agressivos.
O cinema encontrou nestes sintomas algumas das personagens mais memoráveis da sétima arte.
Insomnia (de Christopher Nolan, 2002)
Em Insomnia, Al Pacino interpreta um detective que é enviado para uma vila do Alasca para investigar o homicídio de uma rapariga. Enquanto tenta capturar um suspeito, dispara acidentalmente contra o seu colega, matando-o. Em vez de assumir a culpa, diz que foi o fugitivo que o matou, o que apenas vai ampliar a complexidade emocional e o sentimento de culpa pelo seu acto. Entretanto, uma detective local (a duplamente galardoada Hillary Swank por Boys Don't Cry e Million Dollar Baby) conduz também ela uma investigação sobre o homicídio do colega de Al Pacino. Apesar de não parecer haver provas de que este seja o verdadeiro culpado, e da jovem detective o admirar e não desconfiar do seu alibi, Al Pacino começa a sofrer das mais terríveis insónias, numa cidade onde, devido ao interminável Sol da Meia Noite, o dia não cede a vez à noite. Tudo isto começa a causar-lhe alucinações e, para piorar, o culpado do primeiro homicídio (Robin Williams) tenta entrar em contacto com ele e contar-lhe pormenores do seu crime. Um dos melhores filmes de Christopher Nolan, realizador de Batman-O Início e O Cavaleiro Negro, Memento e The Prestige.
O Maquinista (de Brad Anderson, 2004)
O Maquinista, interpretado pelo soberbo Christian Bale (que se revelou ainda em criança com o filme de Spielberg - Império do Sol, e que agora é uma estrela de acção graças a Batman e ao último capítulo do Exterminador Implacável, que está agora nos cinemas), é um homem anorexico (o actor emagreceu até ao ponto que se pode observar na foto) que está a morrer de insónia crónica, não dormindo há mais de um ano. Progressivamente, começa a duvidar da sua própria sanidade, conforme os mais estranhos acontecimentos se vão dando na sua vida. Na fábrica, a fadiga pesa-lhe e os acidentes acontecem. Entretanto, é atormentado por um estranho colega de trabalho, deformado, que mais ninguém acredita que exista. E estranhos post-its vão aparecendo colados ao seu frigorífico, com o jogo da forca, para que este descubra qual a palavra escondida. Uma prostituta e uma empregada de bar são as únicas personagens que se preocupam com ele e as suas cordas de salvação, sendo também arrastadas para uma trama cada vez mais complexa e intrigante em que a realidade e a alucinação se confundem em pura luz do dia.
Clube de Combate (de David Fincher, 1999)
Este filme é, sem a menor dúvida, o meu filme preferido, o melhor que eu já vi na minha vida. Edward Norton é um homem que sofre de insónia crónica. Uma autêntica bomba-relógio à procura de algo que o resgate da sua vivência anónima e rotineira. É ele próprio quem relata a história, enquanto começa a infiltrar-se em grupos de entre-ajuda para doentes de cancro (especialmente os de cancro testicular, onde conhece uma outra infiltrada, Marla Singer, interpretada magistralmente por Helena Bonham Carter...). E é numa das suas muitas viagens de negócios que conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um exêntrico vendedor de sabão feito a partir de gordura humana, roubada de clínicas de lipo-aspiração. Juntos formam um Clube de Combate ilegal, onde homens na mesma situação que ele encontram um escape para a desilusão da vida real. Este filme é uma revolução contra a apatia do socialmente correcto, contra o maniqueísmo de uma vida rotineira, contra o homem resignado a ser um autómato. É uma ode ao excêntrico, ao anormal, ao socialmente incorrecto, à desilusão da vida, dos sonhos não realizados, das ambições frustradas. E o criador desta revolução é um homem que não consegue dormir e embarca na loucura para combater aquela que ele acha que é a sua verdadeira doença.
A Estranha em mim (de Neil Jordan, 2007)
Este é um caso de insónia mais ligeira que as anteriores, mas com consequências nada menos importantes. Jodie Foster é Erica Bain, locutora de uma rádio de Nova Iorque, que percorre apaixonadamente as ruas dessa cidade, ouvindo os seus sons, a suas histórias, vendo e testemunhando "all the beauty and ugliness that is disappearing from our beloved city." Uma noite, após ter estado a tratar dos preparativos para o seu casamento com o seu apaixonado noivo, o casal é atacado por um gangue enquanto passeiam o cão no Central Park. Erica é deixada em coma, o cão é roubado e o noivo morre. Após recuperar a consciência e saber o que aconteceu, Erica é assumada pela dor do luto, pela injustiça e pela sede de vingança. Não consegue dormir. Durante a noite, vagueia pelas ruas de Nova Iorque, ruas que nunca antes tinha percorrido. Vendo-se demasiado insegura e desprotegida, procura obter uma arma ilegalmente. E assim que vê a sua vida ameaçada novamente, faz justiça pelas próprias mãos. Torna-se uma vigilante. Uma justiceira. E a sua insónia não desaparece, assim como a sede de vingança e do sentimento de culpa.
Pesadelo em Elm Street (de Wes Craven, 1984)
Finalmente, apenas um clássico que eu não podia ignorar. A história já é conhecida. Várias crianças que vivem em Elm Street começam a sonhar com um homem deformado, com facas em vez de dedos. Lentamente, começam a morrer durante o sono, um a um, e a protagonista descobre que têm que se manter acordados para ficarem a salvo, e a única forma de cortar o mal pela raiz é trazer o monstro para o mundo real, pois nos sonhos (ou pesadelos) ele é invencível. Wes Craven, mestre do terror, inventou esta história a partir de incidentes verídicos decorridos com três jovens cambodjanos, sobreviventes do genocídio de Pol Pot (?), em que morreram após terem horríveis pesadelos. Aparentemente, primeiro, eles começavam por ter horríveis pesadelos, recusavam-se a dormir durante vários dias, até que acabavam por adormecer devido à exaustão. Acordavam então aos gritos e morriam com um ataque cardíaco. O último caso (destes três) usou vários métodos para se tentar manter acordado, (alguns dos quais utilizados pelas personagens do filme, como ter um termo com café, para ir bebendo às escondidas) e tentou persuadir os pais a acreditarem nele, quando dizia que morreria se adormecesse.
E assim termino o meu ensaio sobre a insónia. Deixo ao vosso critério descobrir o que está por detrás das insónias de cada um. Esta pequena lista de filmes é sugestiva de algumas razões.
Será que o meu vizinho assassinou alguém? Será que o meu colega de trabalho é tão louco quanto parece e sofre de alucinações? Será que a mulher que me serve o café se prepara para destruir as bases da sociedade? Será que o condutor deste autocarro está de luto? Será que aquele tipo com as olheiras não dorme devido a uma insaciável sede de vingança? Ou será que a Nancy não dorme, porque tem medo de morrer?