sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Monkey Shines - Motelx

O Motelx continua a surpreender-me positivamente. Desta vez, não com a descoberta do cinema português no seu melhor, mas com um dos tesourinhos ocultos do cinema americano - um filme de George A. Romero, que virá ao festival no Domingo. "Monkey Shines", de 1988, o ano em que nasci, foi um delicioso prazer para os meus sentidos e espírito mais sombrio. Já não se fazem filmes como este.

A premissa é tão improvável que torna todo o filme numa experiência inesquecível, como ir ao sotão dos avós e descobrir os brinquedos deles. Esta é a história de um atleta, Alan Mann, cuja vida muda abrupta e terrivelmente ao ser atropelado, ficando tetrapelégico. Perante esta drástica mudança na sua vida, cede à depressão e desespero. Um amigo seu, Jeff, o qual, por acaso, trabalho num "laboratório químico" e faz "experiências" com macaquinhos como cobaias, encontra a solução para os problemas de Alan e os seus. Perante o risco de perder financiamento para o seu trabalho, Jeff precisa que a sua cobaia predilecta, uma macaquinha fêmea, interaja com humanos para potenciar as suas capacidades intelectuais. Assim, a macaquinha, após ser treinada pela sensual Melanie, vai viver com Alan, de forma a auxiliá-lo com as tarefas quotidianas. Esta parece ser uma relação prometedora, visto que entre homem e macaquinha nasce uma bonita relação de amizade (poder-se-ia até dizer amor). Porém, Alan começa a ter uns sonhos "bastante esquisitos" em que parece sentir e ver o mesmo que a macaquita quando foge de casa à noite e, para piorar a situação, todos aqueles com quem Alan se irrita acabam eventualmente por sofrer as consequências... morrendo!

Um filme destes é cómico e divertido pela sua simplicidade, sem deixar de estar muito bem filmado e ter um argumento sincero e humilde, que nunca pretende chamar "estúpido" ao espectador. Foram filmes destes que me atraíram para o encantador mundo das Ciências, em que tudo parece perigoso, extravagante, ambicioso, em constante aventura e descoberta. A realidade das ciências é e não é assim, por diversas razões que não são nada chamadas para aqui. Estamos a falar de cinema. O que eu quero dizer é que a imaginação humana é encantadora e dou os meus parabéns a Romero (admito que quase não conheço nenhum filme dele, à excepção d"A Noite dos Mortos Vivos") pela sua genialidade, ao pegar num interessante facto real - a universidade de Boston treina macaquinhos para auxiliar tetrapelégicos nas suas tarefas - e transformá-lo numa história macabra que mistura o terror, a ficção-científica no seu melhor, e a comédia, completamente descomplexado e seguro de si. Apareçam mais Romeros, se faz favor, que sente-se falta de imaginação e muito pó nas ventilações do Cinema.

E por falar nisso, é irónico que devido a problemas de financiamento o próprio Romero só tenha feito filmes de zombies na última década... Ele próprio admite que prefere fazer muitos filmes de zombies com o pouco tempo de vida que ainda tem pela frente, do que esperar eternamente pelo dinheiro para concretizar outros filmes e ideias. http://ipsilon.publico.pt/Cinema/texto.aspx?id=266407

É pena que nem aquele que eu estive a elogiar consegue escapar. Esperemos que com "Inception - A Origem" os estúdios ganhem coragem para arriscar mais.