sábado, 28 de novembro de 2009

2012

Vi este filme no dia de estreia, mas nunca mais tive oportunidade de falar com ele aqui no "Joel Pear's Movies and Shits". Digamos que vida de finalista não é tão excitante como se diz e que também não é exactamente fácil... E trabalhar num hospital não é como o "Serviço de Urgências", "Anatomia de Grey" ou "House". Exceptuando no que diz respeito aos conflitos pessoais. As pessoas que lá trabalham andam tão sobrecarregadas de trabalho e stressadas que descarregam tudo em cima umas das outras, o que cria o efeito Bola de Neve, com gente a stressar-se ainda mais e a tomar anti-depressivos e a meter baixa para não ter que voltar àquele inferno durante umas semanas.
Continuando!
2012 não me desiludiu nada! Adorei este filme! Rolland Emmerich está de parabéns por ter feito um filme trepidante em que as personagens não se movem como peças de xadrez. É evidente que tudo está incrivelmente exagerado, mas olhem bem para a premiça: é o FIM DO MUNDO! Tem que ser algo em grande!
Existe uma ou outra personagem um tanto ou quanto caricatural (vejam os russos), mas o realizador e os actores conseguiram insuflar vida em todas aquelas pessoas de vários países que tentam salvar-se a todo o custo. John Cusack regressa num papel que lhe revitaliza a carreira, mostrando que continua um óptimo actor de comédia e consegue transportar às costas um filme de 200 milhões de euros. É ele que nos leva nesta espectacular viagem pelo Apocalipse (e viagem não é necessariamente uma metáfora) em que nos divertimos, rimos, agarramos as cadeiras, tentamos sobreviver com a todo o tipo de cataclismos avassaladores e mega-realistas, envolvemo-nos com as personagens, emocionamo-nos, assustamo-nos... um pouco de tudo. O filme tem todos os ingredientes.
Falando das outras personagens: quem esperava ver Amanda Peet interpretar uma personagem jovial e cómica, como nos habituou, desengane-se. Ela é o contraponto dramático de John Cusack, sendo a ex-mulher que teve que desistir do seu futuro para cuidar dos filhos, enquanto ele tentava ser um escritor de ficção-científica. Chiwetel Ejiofor revela-se um óptimo actor (sendo que tem aparecido sempre em papéis mais secundários do que principais até este filme) sendo o grande herói moral deste filme. É um cientista de valores, guiado pela razão e pelo conhecimento. Thandie Newton não tem aqui um papel interessante para meter no currículo, quando já interpretou personagens de enorme intensidade dramática na série "Serviço de Urgência" e no espectacular "Crash - Colisão". Na minha opinião, ambas as actrizes principais foram ligeiramente sub-aproveitadas. Mas é um prazer vê-las e elas também não se queixaram muito.
Danny Glover (Arma Mortífera, Ensaio sobre a Cegueira) é um presidente dos EUA convincente, com o peso de todas as decisões tomadas relativamente ao destino da humanidade a pesarem-lhe na consciência. É um excelente actor, num excelente papel, que poderia ser uma referência a Obama (que ainda não era presidente quando o filme estava a ser rodado). Mas continuo a preferir ver o Morgan Freeman a fazer o mesmo papel no meu adorado Impacto Profundo (o filme que me fez querer ser realizador de cinema, um dia...).
Finalmente, a personagem de Oliver Platt talvez fosse desnecessária, ou seja demasiado plana. É o mau da fita. Não nego que existam homens destes na realidade. Eles existem e não têm escrúpulos. Mas é um cliché num filme deste género. Podia ter sido evitado. Não fosse o facto de Chiwettel Ejiofor ser o seu oposto (com escrúpulos) seria de desejar que este lhe tivesse espetado uma murraça nas fuças. Ainda bem que não aconteceu. Isso, apesar de prazeroso para o público, seria um cliché ainda maior. E deixem-me falar-vos de Woody Harrelson! O homem é genial! Louco, alucinado, perfeito nesta personagem que quase nos faz chorar a rir e arrepiar perante as imagens apocalípticas que ele descreve e admira tanto como nós. Ele pode muito bem ter sido o melhor deste filme.
Não me vou prolongar em relação aos efeitos especiais. Estão muito próximos da perfeição. Nunca vimos no cinema desastres naturais tão realistas, gigantescos, horripilantes e avassaladores como neste 2012!
O argumento não é uma obra de arte, mas deixa que as personagens se desenvolvam, é bem ritmado e equilibrado, o que num filme com tantas personagens quase principais, é de louvar. Há-de haver também pessoas, como eu, que ansiavam por um filme em que finalmente houvesse a coragem para acabar com tudo e arrasar a humanidade da face do planeta. Será que o final deste filme as vai deixar satisfeitas? Não vou revelar pormenores. Eu fiquei bastante satisfeito. Há-de haver quem não fique. Seja como for, daqui a algum tempo é possível que estejamos todos a ver televisão, assistindo ao novo projecto do realizador: Uma sequela deste filme, possivelmente chamada 2013. Não será um filme, mas uma série. E eu estou ansioso por ver o que aconteceu pelo resto do planeta, com personagens de outros países, sobreviventes a tentar sobreviver ao Aftermath...
Respondendo a uma pergunta que eu coloquei neste blog há já bastante tempo: O fim do mundo será divertido? Sim. E vale a pena ver... numa sala de cinema, claro! Preparem-se para sair de lá com as pernas a tremer.

domingo, 8 de novembro de 2009

The Soloist - O Solista


O realizador britânico de "Atonement - Expiação" e de "Orgulho e Preconceito", Joe Wright, fez o seu primeiro filme americano e comprovou a sua qualidade e talento. O Solista não é uma obra-prima, mas foi uma óptima escolha para o realizador se transferir para Hollywood e um filme que sucede as anteriores obras deste artista com grande sensibilidade.

Esta é a história verídica de um jornalista, interpretado por Robert Downey Jr. (nomeado ao oscar por "Chaplin" e "Tempestade Tropical" e estrela do franchise "Iron Man") que se encontra perdido no marasmo de uma vida sem grande sentido e objectivos e do sem-abrigo esquizofrénico que ele encontra na rua, interpretado por Jamie Fox (vencedor do oscar por "Ray"). Este jornalista encontra neste sem-abrigo uma grande fonte de inspiração para o seu trabalho, acabando por conseguir encontrar um sentido para a sua vida ao tentar ajudá-lo, uma vez que aquele homem tinha um incrível talento para a música, apesar de apenas ter consigo um violoncelo partido.

Ambos os actores interpretam papeis riquíssimos e conseguem insuflar-lhes vida e dinamismo. A química entre eles é inegável, enquanto a relação entre eles se transforma em amizade.

Joe Wright conseguiu criar belíssimas sequências abstractas e subjectivas, em que tentou transmitir os sentimentos e sensações transmitidas pela música a quem a tocava e a quem a ouvia. Tentar transformar a música em imagens, sons em luz, é algo quase impossível, mas este realizou tentou fundir ambas as artes numa só ao longo de um filme que nos embala e faz viajar pelos nossos pensamentos e descobrir emoção nos sons que nos rodeiam no dia-a-dia.

Pode não ser um filme tão falado/conhecido como os outros dois filmes deste realizador, mas é excelente por mérito próprio. É uma espécie de ensaio que tenta derrubar os limites do cinema e do que este nos pode proporcionar. E aposto que vai ser nomeado (pelo menos) para o oscar de melhores efeitos sonoros e som.

Façam mais filmes destes, por favor! Esqueçam J.I. Joes e Transformers. Eu gosto de blockbusters, mas o cinema parece andar com tendência para resvalar para uma zona sombria com pouco gosto e consideração pela inteligência dos espectadores (ou talvez não). Aqui temos uma obra de arte que agrada público e crítica, com uma qualidade inegável, uma história que apesar de pouco original é real e única e merece ser vista por todos.

Distrito 9


Eis o filme mais estranho dos últimos anos. Um misto de falso documentário com filme de ficção-científica e acção. A premissa é uma das mais originais que assaltaram as nossas salas de cinema recentemente... ou então, não! Mas, seja como for, é inegável que conseguiu renovar e dar lustro a um tema recorrente no cinema e cada vez mais gasto: a invasão alienígena.
A abordagem é a mais improvável: fomos invadidos "sem querer". Porque a nave extraterrestre teve problemas, ficou parada sobre a cidade de Sarajevo e numa tentativa de os ajudar, criou-se na cidade um acampamento onde os alienígenas poderiam ficar a viver até que a nave estivesse em condições de regressarem ao planeta deles. Porém, passam-se 10 anos e nada feito. O acampamento transforma-se num bairro de lata onde a população alienígena já ascende aos milhões, onde existe prostituição, assaltos, homicídios, contrabando, toxicodependência (são viciados em comida de gatos...), todo o tipo de violência e tráfico de armas, as quais os humanos não conseguem usar, mas nas quais têm todo o interesse.
Há que encontrar uma solução, a qual consiste no deslocamento destes alienígenas para um outro acampamento fora da cidade, onde, supostamente, terão mais condições para viver... um pouco como quando os judeus foram forçados a sair daqueles guetos para irem para os campos de concentração. É então que algo acontece ao nosso protagonista (não vou desvendar), que é o homem responsável pelo realojamento destas criaturas semelhantes a gafanhotos gigantes, e o força a aliar-se aos extraterrestres (um deles em especial) para poder sobreviver, enquanto é perseguido pelo próprio governo que o quer sujeitar a experiências que terminarão inevitavelmente com a sua vida.
É pena este filme não optar apenas por uma das modalidades (ou filme ou falso documentário), uma vez que a partir de determinado ponto torna-se demasiado óbvio que já não está nenhum operador de câmara a acompanhar o protagonista nas sua luta pela própria vida. Todavia, tal é compensado por uma boa história, com um argumento razoável (não é muito intimista, mas é mais que suficiente para dar profundidade às personagens e prender o espectador) e um enorme realismo visual, bem servido com uma bela dose de gadgets esquisitos, óptimos efeitos especiais, alguma violência gratuita, humor q.b., e uma imagética poderosa que combina o high tech com os cenários africanos. É estranho vermos extraterrestres tão personificados, sendo que todos eles são diferentes entre si, em termos de visual, caracterização e vestuário, o que talvez diminua o receio relativamente a eles e os torne menos credíveis, ou talvez não... fica dependente da sensibilidade de cada um.
Por isso mesmo, este filme pode ser um dos maiores feitos deste ano, ou a maior fantochada, visto que tanto encontramos espectadores que se riem desalmadamente com falta de credibilidade de tudo, como aqueles que ficam alucinados ao depararem-se com imagens e ideias que nunca lhes passaram pela cabeça em toda a vida.
Eu próprio direi apenas que adorei a abordagem a temas como a discriminação, o racismo, a violência e os poderes ocultos do governo e da ciência militarizada.
Resta-me dizer que Peter Jackson, realizador de King Kong e da trilogia Senhor dos Anéis, que em breve nos presenteará com The Lovely Bones, teve olho quando descobriu o realizador deste filme, depois deste ter feito uma curta metragem que se pode encontrar no youtube que nos mostra o momento da chegada dos alienígenas e todo o conflito gerado. Distrito 9 é a continuação desta curta-metragem (que provavelmente poderemos ver quando sair em DVD) e é mais que óbvio que o filme terá outra sequela nos anos vindouros... Venha ela. A originalidade e criatividade deve ser sempre aplaudida. E este é o caso!

Fica aqui o endereço do site oficial: http://www.d-9.com/