quarta-feira, 14 de abril de 2010

Shutter Island


Repetindo as palavras de uma grande amiga, Leonardo DiCaprio e Martin Scorsese voltam a brincar juntos. E que grande brincadeira. As brincadeiras deles estão cada vez melhores! Shutter Island é fenomenal. Entrei no cinema à espera de um filme de terror do tipo "O Cabo do Medo" (a única referência que eu tinha deste realizador em termos de terror) e saí de lá com um arrepiante thriller psicológico do mais alto nível. Algo entre "The Shining" de Stanley Kubrick e "Se7en - Sete Pecados Mortais" de David Fincher. Muito sinceramente, bateu todas as minhas expectativas e será sempre uma referência para mim sobre como deve ser um verdadeiro thriller psicológico e intenso, como já não se fazia há anos.


Não me apetece perder tempo a resumir o filme numa sinopse. Para isso, têm os folhetos das salas de cinema, o Cinecartaz do público e até o próprio livro, em que este filme é baseado, para consultarem.


Scorsese filma cada cena, cada segmento, com um cuidado irrepreensível. Não há uma única falha em cada enquadramento. É o cinema transformado em verdadeira arte, como se cada frame se pudesse transformar num quadro perfeito. A banda sonora é assombrosa e contrasta de forma brilhante com algumas das imagens mais idílicas do filme. Arrepia-nos e surpreende-nos quando menos esperamos.

A única crítica menos positiva que poderei fazer, talvez seja o facto de o filme abrandar e quase parar numa sequência de alucinações/sonhos/pesadelos e flashbacks do personagem de Leonardo DiCaprio. Para mim, foi demasiado longa e chegou a ser maçadoura apesar das imagens perturbadoras com que nos presenteava. Mas é só isto! Adorei tudo o resto.

Leonardo DiCaprio comprova novamente que é um dos melhores actores da actualidade e, na minha opinião, é um actor que vai ficar para a história do cinema, quer gostem dele ou não. Eu só acho que a cada filme que ele faz, vai aprimorando a sua técnica, refinando as suas personagens e tornando-se cada vez mais perfeccionista. Simplesmente, brilhante. E espero que a parceria dele com este realizador não se fique por aqui. A sétima arte agradece e o público também.

Termino com um apontamento para os restantes actores. Todos na sua melhor forma. Mark Ruffalo é o marshal que acompanha DiCaprio ao longo das investigações nesta ilha infernal e consegue tão facilmente fazer-nos acreditar que está do lado do parceiro, como que faz parte de toda a conspiração, mantendo-nos na expectativa até ao desenlace. Ben Kingsley é um "sir" na vida real e no cinema. Façamos uma vénia a este senhor que aqui nos presenteia com mais uma personagem assombrosa e perturbadora. E Michelle Williams deixa completamente para trás a menina do "Dawson's Creek" e o rótulo "a ex do Heath Ledger" para nos mostrar a fibra de que é feita uma verdadeira actriz. Quando descobrimos o desenlace do filme, cada um dos actores mostra aquilo que vale e arrepia-nos com a performance de uma vida.

Aviso: Preparem-se para a última cena do filme. Adorei.

A Single Man

Oi pessoal!
A ver se faço alguma coisa. Tenho andado a ser egoísta, porque vou ao cinema, mas não partilho nada convosco.
Já vi este filme há montes de tempo. Montes mesmo. Vi ainda antes dos oscares, para saber se o Colin Firth tinha sido nomeado por interpretar um homossexual ou por fazer o melhor papel da sua carreira. Felizmente, a resposta é a segunda opção. Colin Firth mostrou finalmente o que valia. Não é apenas o príncipe encantado britânico, ideal para comédias românticas e romances da época vitoriana.
Este filme conta-nos a história de um homem que decide que aquele é o seu último dia de vida. Acompanhamo-lo desde que acorda e segue a sua rotina habitual. E, por alguma razão, algo faz com que aquele dia saiba de forma diferente de todos os outros. Todos os sentidos são captados com toda uma maior intensidade. Arrisca, conhece outras personagens com outros problemas: Um imigrante latino que o tenta engatar em troco de dinheiro, um aluno que ainda não saiu do armário e se vê fascinado pelo professor... Revisita a melhor amiga, com a qual passou os melhores e piores momentos da sua vida. E o fantasma do seu antigo namorado nunca deixa de estar omnipresente. As recordações, o desgosto da sua morte...
Colin Firth interpreta este homem solitário com uma simplicidade indescritível. A sua performance está mais no que ele não diz, nos olhares, nos gestos, nas atitudes que toma.
Tom Ford, enquanto realizador, é muito competente. Este foi o seu primeiro filme, sendo que antes já tinha trabalhado no cinema, mas na parte do guarda-roupa, em filmes como "O Diabo Veste Prada". Com a sua câmara, ele consegue captar com uma tremenda profundidade a importância que cada segundo daquele dia tem para o protagonista. Talvez exagere em determinados "close ups" e segmentos em câmara lenta, mas está lá a devida sensibilidade, a solidão de cada personagem e a necessidade de proximidade e o desespero por humanidade. Nesse sentido, a personagem de Julianne Moore poderá ser a que melhor representa estes sentimentos. Uma mulher rica, divorciada diversas vezes, cujo único homem que ama e sempre amou é o seu melhor amigo gay. Podemos pensar que numa ocasião ou outra, a representação de Moore está exagerada, mas se pensarmos na personagem como uma tia de Cascais, percebemos que ela está perfeita, como sempre.
Finalmente, um apontamento para Nicholas Hoult, o rapazinho que acompanhava Hugh Grant em "Era uma Vez um Rapaz". O miúdo já tem vinte anos e comprova que não é apenas uma estrela infantil, mas que se tornou um actor maduro e capaz de nos surpreender neste filme e nos muitos que hão-de vir.
Este é um filme perfeito para nos mostrar que a homossexualidade existe e não é nenhuma epidemia mortífera. Óptimo para quebrar barreiras e abrir as persianas dos olhos para o mundo. Eles são apenas pessoas, com qualidades e defeitos como qualquer um.