domingo, 13 de dezembro de 2009

Great Expectations - Avatar


James Cameron é um homem que não tem uma filmografia muito extensa, tendo realizado apenas oito filmes e dois documentários em toda a sua carreira, mas ficou para sempre na história do cinema, assim como cada um dos filmes que fez. Apesar de dizer que não pensa de forma hollywoodesca e ser canadiano, não se preocupando em ter sucesso comercial, todos os seus filmes foram grandes êxitos de crítica e bilheteira. O Titanic continua imbatível no topo, passados 12 anos desde que foi feito. 14 nomeações, 11 oscares, e o maior sucesso de bilheteira de todos os tempos. Desde esse filme que James Cameron se tinha dedicado apenas a explorar o fundo dos oceanos, fazendo dois documentários para poder financiar as expedições. O mundo implorava que ele voltasse a fazer algum filme. Afinal de contas, foi ele quem fez os primeiros dois Exterminadores Implacáveis, O Abismo, Aliens: O Reencontro Final e A Verdade da Mentira. Talvez o facto de apenas ter feito estes filmes, e do intervalo de tempo entre eles ser tão grande, seja explicado pela sua mania da perfeição. Tudo passa pelas suas mãos, desde o guião, realização, produção e montagem. Não há nada que ele não controle. Repete as cenas até 40 vezes se for necessário, sendo que a rodagem dos seus filmes é sempre bastante longa.

Escreveu Avatar em 1995 e após realizar Titanic tentou saber se era possível realizar esse filme. Não. O mundo e a tecnologia ainda não estavam preparados para um filme tão inovador. Eis que já em pleno século XXI ele vê um certo Gollum num filme chamado O Senhor dos Anéis e pergunta-se se já pode retirar o guião de Avatar da gaveta. Foi necessário criar nova tecnologia, a mais avançada de sempre, com uma nova câmara de alta definição e novos aparelhos para as cenas de motion capture (em que se capta o movimento dos actores e se integra nas suas personagens digitais) e 4 anos para concretizar este sonho. Prevê-se uma revolução da experiência de ver filmes, prometendo uma imersão total do espectador na acção através do 3D.

A história dificilmente podia ser mais irreverente (principalmente se tivermos em conta que foi inventada há já 15 anos). Sam Worthington (Exterminador Implacável: A Salvação) interpreta um ex-marine que ficou paralítico em combate e tem uma nova oportunidade de voltar a andar e a servir o seu país, quando o convidam a experimentar um Avatar para visitar um novo planeta. Um avatar é um "traje biotecnológico onde se mistura o seu ADN com o da raça extraterrestre que povoa esse mundo. O seu objectivo é comunicar com essa civilização", como o actor explica à Premiére, de forma a que os seres humanos consigam explorar os recursos naturais desse planeta. Acontece que esta espécie vive em harmonia com a natureza, pelo que a introsão devastadora do ser humano tem que ser travada a qualquer custo. Começa então uma batalha entre os habitantes nativos de Pandora (o planeta) e os seres invasores (os humanos). Jake, o protagonista, que aprendeu a forma de viver e os costumes dos Na'vi (os nativos) com a ajuda de Neytiri (interpretada pela belíssima Zoe Saldana que vimos nos Piratas das Caraíbas e em Star Trek), por quem se apaixona, tem então que decidir de que lado da batalha está.

Além destes actores, temos Sigourney Weaver, a cientista que inventa os avatares e "acredita que a ciência pode salvar o planeta Pandora" (pensem no mito da caixa de Pandora, se faz favor); Stephen Lang (Inimigos Públicos), o coronel que comanda a invasão do planeta; Giovanni Ribisi (Inimigos Públicos, 60 Segundos), o homem que quer explorar os recursos naturais de Pandora a todo o custo; e Michelle Rodriguez (Velocidade Furiosa), militar e amiga da personagem de Sam Worthington. Não devia mencionar Joel David Moore, porque além de ter o meu nome, participou num dos piores filmes de sempre: "The Hottie and The Nottie", ou "A Bela e a Feia", com Paris Hilton. Não percebo como é que se salta desse exterco para uma das maiores produções do ano...

Quinta-feira, vamos ser invadidos por Avatar nas nossas salas de cinema. Não vou poder assistir à sua estreia, mas mal posso esperar por abalar os meus alicerces com um filme que promete ser uma experiência inesquecível.

Assistam a este vídeo no Youtube, para terem noção do trabalhão que este filme deu: http://www.youtube.com/watch?v=L6JXUoWeZ7Q
Vejam também a reacção dos críticos que tiveram o privilégio de assistir à ante-estreia em Londres na passada quinta-feira: http://ipsilon.publico.pt/cinema/texto.aspx?id=247142

sábado, 5 de dezembro de 2009

Curtas-Metragens - Grandes Obras


As curtas-metragens, forma de cinema tão ignorada, são muitas vezes verdadeiras obras de arte. Preciosidades, é com elas que se formam todos os artistas da sétima arte. Eu próprio já fiz umas quantas, procurando o meu próprio estilo, aprendendo e imitando, não o nego. Vou encontrando pequenas noances nos meus filmes preferidos, que gosto de recriar para contar as minhas próprias histórias. Vou encontrando também novos ângulos e conhecendo as dificuldades, as limitações. Vou descobrindo truques, com os quais consigo criar e dar vida a tantas fantasias e abstracções. Transformo a minha imaginação e sonhos em realidades.

As curtas-metragens, como obras de arte e ferramentas de aprendizagem que são, são também vencedoras de prémios (inclusivé Oscars) e dão notoriedade a futuros grandes realizadores e actores.

As curtas-metragens, são como os contos. Há pequenas histórias que só por serem transformadas em romances, perdem metade da sua beleza. Não devem ser prolongadas mais do que aquilo que são. São belas pela sua simplicidade. Ou deslumbrantes pela forma como têm tanto condensado em tão pouco tempo. São exercícios de liberdade, em que o artista pode fazer o que quer sem ter que se preocupar em como vender o seu produto. É fruto do nosso egocentrismo. Fazemo-las como nós gostaríamos de as ver, para agradar a nós próprios, namorando o nosso próprio úmbigo. Podem emocionar, surpreender, divertir, confundir, chocar.

Gosto de as ver. Mas são tão pouco divulgadas, a maioria delas, que só se encontram em certos círculos mais restritos.

Eis que aparece uma nova ferramenta, muito útil, que nos fornece um acesso a um conjunto de obras tão mais vasto. A Internet e o Youtube (em concreto), apesar dos seus inúmeros defeitos, tem esta qualidade. Acesso.

Deixo-vos aqui um conjunto de grandes obras que eu muito aprecio... Tendo participado nalgumas delas... Falando de namorar com o úmbigo...












Lost? (Coldplay Video Competition)




Sociologia da Saúde - Desigualdades Sociais face à Saúde: http://www.youtube.com/watch?v=2LEAFGDSWV4

Blair Bitch - As Desventuras de Vagina Girl

E a fotografia que podem ver no topo deste post foi tirada durante as filmagens da minha última curta, a qual ainda está em pós-produção... Desejem-me sorte...

Surrogates - Os Substitutos


A primeira coisa em que penso quando oiço o título português deste filme é na música de uns desenhos animados da Disney que também se chama "Os Substitutos" (em Portugal e no Brasil). Infelizmente, chama-se "The Replacements" nos países anglosaxónicos, pelo que a associação só tem lógica em Portugal.


"Os Substitutos" é um filme de ficção-científica, protagonizado pelo veterano Bruce Willis e realizado pelo medíocre realizador de "Exterminador Implacável 3 - A Ascenção das Máquinas" (o pior filme da saga e o último em que Schwarzenneger participou), Jonathan Mostow. Willis demonstra neste filme a sua qualidade enquanto actor e não como estrela de acção. A idade dele já pesa, algo que torna este filme ainda melhor. Pena não se dedicar a mais papéis dramáticos como nos filmes de M. Night Shyamallan ("O Sexto Sentido" e "The Unbreakable - O Protegido"). Quem sabe... Ambos estão a precisar de um empurrão nas suas carreiras. Talvez uma nova parceria entre eles fosse benéfica. O público agradecia. Deixo aqui o mote.

Este filme faz lembrar o filme "I, Robot", de Alex Proyas (um realizador que considero um artista, apesar de "Knowing - Sinais do Futuro" - http://joelpearsmoviesandshits.blogspot.com/2009/05/knowing-sinais-do-futuro.html) protagonizado por Will Smith, em 2004. Não só por serem ambos filmes de ficção-científica com robots, mas pela vertente filosófica que ambos têm (o melhor destes filmes) e por serem ambos policiais carregados de suspense, o que os torna absolutamente hipnotizantes. Para acentuar ainda mais as parecenças dos dois filmes, o actor que interpreta o criador dos robots de "I, Robot" e o criador dos Substitutos (Surrogates) é o mesmo - James Cromwell, um óptimo actor que também podemos ver na série "Sete Palmos de Terra - Six Feet Under", e mais conhecido por ser o dono de "Um Porquinho Chamado Babe". Ehehehe.

Numa sociedade em que cada vez mais as pessoas desejam ser perfeitas e belas para sempre, satisfazendo os sete pecados mortais sem consequências, os Substitutos seriam a invenção perfeita. Todas as pessoas podem correr riscos sem sairem da segurança do seu quarto. Ligados "telepaticamente" ao seu substituto, têm todo o tipo de sensações e sentimentos como se estivessem realmente a caminhar pela cidade, a trabalhar, a fazer sexo com quem quisessem, a atirarem-se de edifícios, sem morrerem, sem apanharem doenças, sem sentirem dor... No entanto, existe sempre quem compreenda que as pessoas estão na verdade a viver uma mentira. As pessoas fechadas nos quartos são feias, doentes, incapacitadas... frágeis! E estão viciadas numa vida que não é a sua.

Subitamente, ocorre um crime inimaginável. Alguém conseguiu matar duas pessoas, matando os seus substitutos, quando a empresa que os fabrica afirmava que tal seria absolutamente impossível. Destruir um substituto nunca poria em risco a vida dos seus utilizadores. Bruce Willis é o inspector que vai investigar quem conseguiu cometer tal crime, como e porquê.

Este não é um vulgar filme de acção. As cenas de acção até são poucas e servem apenas para contar a história. O argumento explora a fragilidade do ser humano, as suas fraquezas, o que o leva a desejar ser perfeito e imune, a sua tendência para o vício... As personagens têm uma profundidade dramática superior ao que é habitual em filmes deste género. Superior até ao que vimos em "I, Robot". A personagem de Bruce Willis assenta-lhe que nem uma luva, aproveitando-se das dores da sua idade e da sua maturidade. É como um bom vinho (diz quem é apreciador). LOL

No entanto, é um filme com alguns buracos narrativos... Como é que é possível matar alguém com uma arma que "dispara" um vírus informático contra os substitutos. Percebo a parte em que o substituto morre. Mas não percebo como é que um vírus informático rebenta com o cérebro de uma pessoa. Além disso, os substitutos serem um sucesso tão grande como o filme tenta levar a crer, também não convence muita gente. É verdade que todos nós gostariamos de ter um para viver as mais loucas aventuras em total segurança. Mas poucos de nós teríamos dinheiro para pagar tal comodidade. Nem 90% da população tem dinheiro para um computador. Logo 90% da população ter um robot substituto parece um absurdo. E no filme eles deixam bem acente que os robots não eram de graça...

Contudo, tudo isto são apenas detalhes, num filme que explora uma ideia original e tem coragem de a tornar real. O cinema é uma forma de arte e esta não segue as regras do nosso mundo. Tem apenas como limite a nossa imaginação. E esta pode ir bem longe.

Desafio qualquer pessoa que não tenha medo de filosofar a ver este filme. Vamos todos dar corda aos neurónios e começar a pensar...