sábado, 26 de junho de 2010

The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans


Depois de ter ganho um oscar por "Morrer em Las Vegas" (1995), em que interpreta um alcoolico que decide suicidar-se bebendo álcool até à morte, literalmente, com a companhia de uma prostituta (a fanstástica Elisabeth Shue, também nomeada para melhor actriz, apesar de não ter ganho) e de ter sido nomeado pelo magnífico "Inadaptado" (2002), em que interpreta o depressivo argumentista Charlie Kaufman ("Eternal Sunshine of the Spotless Mind - O Despertar da Mente") e o seu fictício irmão gémeo, Nicolas Cage decidiu abraçar novamente uma personagem problemática e politicamente incorrecta.

Em "The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans", realizado pelo grande Werner Herzog, cuja estreia eu tive a oportunidade de ver há já bastante tempo no Indie Lisboa 2010, mas que ainda se encontra nos cinemas nacionais caso estejam interessados em ir ver, Cage interpreta um detective que durante o furacão Katrina, em New Orleans, sofre uma lesão na coluna que o aturmentará com dores para o resto da vida, ao tentar salvar um prisioneiro de morrer afogado na prisão durante a inundação. No entanto, essa lesão leva-o a ser promovido a tenente, o que traz muitos benefícios materiais. Claro que se aproveita da sua nova promoção para ter um mais fácil acesso a cocaína, que lhe acalma as dores, visto que o seu vício em Vicodin (comprimidos popularizados pelo Dr. House) já não é suficiente para superar as limitações da sua lesão. Após uma família de afro-americanos ser assassinada, ele é destacado para o caso e enquanto tenta caçar o assassino, somos levados por uma montanha russa alucinada de actos imorais e ilegais que vão ameaçando a sua missão, a sua carreira e a sua própria vida. Pelo meio, somos prendados com a presença de uma surpreendente Eva Mendes, no melhor papel da sua carreira, ao interpretar a namorada do protagonista, a qual, além de partilhar dos mesmos vícios, é prostituta.

Finalmente, vemos um bom actor a desprender-se das personagens terríveis que tem vindo a interpretar em tais pedaços de merda como "Ghost Rider", "Next", "Bangkok Dangerous" e uma pilha de outros filmes igualmente intragáveis, com excepção para aqueles blockbusters engraçadinhos da Disney chamados "National Treasure", melhores que as adaptações dos livros de Dan Brown. Pode haver um ou outro momento em que, quando supostamente está no pico dos efeitos das drogas, a sua representação possa parecer um pouco exagerada... É possível! Mas verdade seja dita que os toxicodependentes também são pessoas dadas a exageros... Seja como for, de uma forma global, este é um óptimo filme, em que Nicolas Cage abre asas e voa, dando vida a uma personagem complicadíssima. Os seus actos são profundamente incorrectos, chegando a ser abomináveis, mas há algo naquele homem turbulento, em revolta com a vida que nos deixa absolutamente presos ao ecrã. E a belíssima Eva Mendes interpreta aquela prostituta que não tem pena de o ser, ganha bom dinheiro com o que faz, muito útil para pagar a cocaína que consome, continua a amar e a adorar o seu tenente defeituoso, e acaba por levar por tabela em consequência dos actos dele.

Só tenho pena de Val Kilmer, com uma personagem secundaríssima, com aspecto de ex-estrela de cinema em decadência, sendo que este filme é um dos poucos que ele tem feito e não foi parar directamente às prateleiras de DVD.

Se alguém quiser uma baforada de ar fresco neste verão cheio de heróis perfeitos, aqui está um filme repleto de adoráveis personagens incompletas, incorrectas, impressionantes e deliciosamente incorrectas. E observem com atenção aquelas alucinações com as iguanas. Simplesmente delirantes...

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