segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Invictus


Olá Pessoal!

Ainda não fui ver o "The Hurt Locker - Estado de Guerra", como prometi, mas tive a sorte de ser convidado na semana passada a ir ao cinema para ver o magnífico "Invictus". Eu até estava um bocado reticente, por causa de todo o trabalho que tinha pendente: estágios, projectos de investigação, recensões críticas de artigos científicos,... são coisas que não se fazem em duas horas e tinham que ser todas superadas até ao final da semana. Ainda assim, decidi que dormir menos umas horas e ir a cinema só me ia fazer bem ao espírito - e estava correcto. Não me arrependi minimamente.

Há anos que não saía tão satisfeito do cinema. Saí daquela sala com uma gloriosa sensação de alegria e esperança. Sabendo que se trata de um filme que retrata um país, uma História e uma cultura completamente diferente da americana, com um tema tão frágil como o racismo e o Apartheid, com uma personagem histórica tão célebre como é Nelson Mandela e uma abordagem sobre tudo isto tão invulgar como o Rugby, era mais que razoável todos nós pensarmos que Clint Eastwood se estava a aventurar em águas desconhecidas e corria o risco de se perder algures e naufragar. Tal não se verificou. De todo! Realizou todo um filme com uma beleza e simplicidade que apenas ele consegue.

Morgan Freeman, que venceu o seu primeiro oscar com "Million Dollar Baby", também rodado por Clint Eastwood, após três nomeações ("Street Smart"; "Driving Miss Daisy"; "The Shawshank Redemption"), interpretou neste filme o papel de uma vida. Quantos actores não desejariam estar nos pés dele? Nenhum estaria à sua altura. Ao longo do filme, esquecemo-nos de que aquele é o actor e vemo-lo apenas como o sábio e pacifista Nelson Mandela. Trata-se de uma interpretação totalmente irrepreensível. O meu pai bem dizia, sempre que o via nalgum filme, que Morgan Freeman teria que interpretar Nelson Mandela um dia. Ele tinha razão.

Após sair em liberdade da prisão, receber o Prémio Nobel da Paz com o presidente Frederik de Klerk (que ordenou a sua libertação) e ser eleito presidente da África do Sul através de eleições democráticas, Mandela deparou-se com um país fraccionado, com negros pobres e brancos ricos, e muita raiva latente. Mandiba, como era apelidado carinhosamente pelos seus seguidores, sabia que não podia seguir o exemplo das outras colónias africanas (como Angola e Moçambique), que expulsaram os seus colónos e se viram abandonados à miséria. Tal como aprendera na prisão, não era com a raiva e a vingança, pelas crueldades que tinham sido cometidas contra ele e contra o seu povo, que ele conseguiria criar estabilidade no seu país. Era imperativo conseguir o apoio do estrangeiro para que todos os problemas da sua nação pudessem ser resolvidos e isso só poderia ser conseguido com a união de toda a população.

Pressionado para acabar com a equipa de rugby daquele país, os Springboks, Mandela percebeu que isso seria retirar aos brancos um dos seus principais amores. Teria que conseguir, não só manter aquela equipa, que iria participar no campeonato mundial de rugby que decorreria precisamente na África do Sul, mas também fazer com que todo o povo, e não só os brancos, passasse a adorar aquele desporto, contando, para isso, com a ajuda do capitão da equipa - François Piennar - interpretado por Matt Damon ("O Bom Rebelde"; "O Resgate do Soldado Ryan"; trilogia "Bourne").

Matt Damon sofreu uma tremenda transformação física para interpretar este papel, tornando-se num corpulento capitão de equipa de rugby absolutamente credível. Tal como o seu amigo Leonardo DiCaprio já tinha feito em "Diamante de Sangue", conseguiu aprender o dialecto e incorporar o sotaque sul-africano nos seus diálogos na perfeição. Não interpreta o incrível capitão de uma equipa rumo à glória, mas sim o jovem tímido e com defeitos, que encontra nas palavras de Mandela a inspiração que lhe faltava a ele e à equipa para atingirem a vitória.

Clint Eastwood filmou um filme incrível, com uma humanidade e sensibilidade em todas as suas cenas que o transformam numa obra-prima inesquecível. Eu recomendo toda a gente a ir ver este filme e, só depois, a descobrir a história de Mandela e da África do Sul (que ainda hoje tem muitos problemas e dificuldade para ultrapassar). Vemos o evoluir de toda uma sociedade ao longo de um campeonato de rugby, enquanto valores como a tolerância e o amor vão superando as barreiras do ódio e da vingança, culminando num tremendo clímax em que a vitória de uma equipa de rugby simboliza também o triunfo da paz e da razão sobre o racismo.

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