terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Up in the air - Nas Nuvens


Hoje, parece que tirei o dia, inconscientemente, para abraçar a doce melancolia, como se tivesse saudades dela... Comecei a manhã a estudar a razão por que o grupo sanguíneo (AB0, Rh) pode ser responsável pela morte de bebés ainda no útero da mãe ou por graves danos no seu desenvolvimento. Ao almoço, descobri que um dos meus filmes preferidos estava a dar na televisão e, sabendo que a melancolia vinha aí, deixei-me estar a vê-lo na mesma - "Antes do Anoitecer". É implacável. Atinge-me o nervo da melancolia sempre que o vejo. Depois fui para o estágio, cumprir a minha rotina rotineira e, finalmente, fui ver o filme sobre o qual venho falar, com dois grandes amigos meus, que mais cedo ou mais tarde deverão ler isto. Agradecido pelo bilhete, pela companhia e por serem vocês. E também tenho que agradecer a outra pessoa pelos 20 minutos de atraso com que entrei no cinema - a minha monitora - que o diabo a leve para o raio que a parta!

"Up in the Air" conta-nos a história de Ryan Bingham, um homem que ganha a vida a despedir pessoas em empresas por todo o país (EUA), quando os patrões são demasiado cobardes para o fazerem. George Clooney interpreta este homem com a maior das naturalidades. Parece um reflexo dele próprio, numa realidade alternativa, em que ganha a vida nesta profissão em vez de fazer filmes e promover Nespresso. Ryan adora esta vida. Desligado de tudo o que o prenda à terra, não é um homem de família, nem sequer tem casa. Passa a vida a viajar de avião, de cidade em cidade, a dormir em hoteis. É assim que tropeça em Alex Goran, uma mulher que parece o reverso feminino dele próprio, ganhando a vida a viajar. Obviamente, a relação entre ambos vai crescendo, deixando de ser uma coisa física, tornando-se lentamente algo mais sentimental, entrando em conflito com o ideal de vida desenraizada que Ryan adora e apregoa. Entretanto, com a chegada da jovem Natalie Keener à sua empresa, Ryan pode deixar de viajar, uma vez que esta acha que a melhor forma de reduzir os custos da empresa é acabando com as viagens de avião de todos os seus trabalhadores e começar a despedir as pessoas por video-conferência. Cabe a Ryan treiná-la para esta função e mostrar-lhe que a tarefa de dizer às pessoas que perderam o seu emprego não é tão fácil e mecânica como ela pensa. Todos reagem de forma diferente, e a forma como eles conseguem ultrapassar tudo isso depende da forma como Ryan e Natalie lhes dão a notícia.

Jason Reitman (que já venceu o globo de ouro pelo argumento deste filme e deverá repetir a façanha nos oscares) é um realizador que já não tem nada a provar ao mundo. Com "Thank you for Smoking", "Juno" (outro dos meus filmes preferidos) e este "Up in the Air" mostrou-nos que consegue retratar os temas mais sensíveis com humor e a devida sensibilidade sem ser melodramático e lamechas. Este homem não faz telenovelas. Mostra-nos vida. Todas as suas personagens são cheias dela. Movem-se com naturalidade. Nada parece forçado. E com a sua banda sonora, é como se estivessem a dançar. Adoro a forma como filma, os enquadramentos. Deixa as personagens respirar. Dá-lhes espaço. A câmara não as tenta comer vivas, apenas as observa.

Vera Farmiga interpreta a personagem de Alex, por quem a personagem de Clooney se apaixona. Esta é uma actriz espectacular, que eu adoro desde que a vi em "The Departed - Entre Inimigos". Vão por mim, com este papel e a forma como ela o conseguiu interpretar, tem uma longa carreira pela frente, ao lado das melhores da sua profissão. Pode muito bem ganhar uns prémios pelo caminho, como o provou a nomeação ao Globo de Ouro de melhor actriz (e quem sabe ao Oscar...). Anna Kendrick, que se tornou conhecida com os filmes da saga "Twilight", que interpreta Natalie em "Up in the air", nunca é ofuscada pelo protagonista, com quem contracena ao longo de todo o filme. É o retrato perfeito dos jovens adultos, actualmente, altamente inteligentes e formados academicamente, mas em colisão com o mundo, pela falta de experiência e pelo desmoronar das nossas expectativas. Jason Reitman trouxe-nos novamente os excelentes actores Jason Bateman ("Juno", "Hancock", "Arrested Development"), que interpreta o patrão de Ryan e Natalie; e J. K. Simmons ("Homem Aranha 1, 2, 3; "Juno"; "Burn After Reading"), como um dos muitos homens que perdem o emprego.Acrescento ainda que achei extremamente corajoso terem pedido a verdadeiros cidadãos desempregados para interpretarem o momento em que as suas personagens perdem o emprego. Não há uma única gota de representação nas caras daquelas pessoas. É impressionante pela coragem que elas tiveram, submetendo-se a reviver aquele momento, e pela de quem fez o filme e as convidou a participar. As músicas da banda sonora são perfeitas para o tom da história e a última canção a passar nos créditos finais... bem que merecia uma nomeaçãozita ao oscar de melhor música. Quando a ouvirem, perceberão porquê.
Fiquei melancólico porque Jason Reitman fez um excelente trabalho. Cada um de nós identifica-se com cada uma daquelas personagens. Com o solteirão bem-sucedido que se apaixona e apercebe-se da sua solidão. Com a jovem licenciada que tem o seu primeiro emprego e é confrontada com a realidade. Com a mulher que apenas procura um escape da realidade. E eu que, quando terminar o meu curso, corro o risco de fazer parte dos 50% de desempregados da Geração Zero, identifico-me com cada uma daquelas pessoas que de repente, sem aviso, se sentem completamente perdidas, sem saberem como manter as suas vidas a flutuar sobre a água.

Este é, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes do ano. Não o percam.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=_m-Da8Tz4_E

Cena do filme: http://www.youtube.com/watch?v=HXIbS1mVXUo&NR=1

Site Oficial (onde podem obter as músicas do filme): http://www.theupintheairmovie.com/

1 comentário:

  1. epa, porra pa ti q cada vez gosto mais da tua escrita - e consequentemente de ti ;) - e da forma como interpretas (tamos) os filmes!

    tens q agradecer ao caco o bilhete ahahah :) our pleasure to have ur company! always!

    ResponderEliminar