
Hoje, parece que tirei o dia, inconscientemente, para abraçar a doce melancolia, como se tivesse saudades dela... Comecei a manhã a estudar a razão por que o grupo sanguíneo (AB0, Rh) pode ser responsável pela morte de bebés ainda no útero da mãe ou por graves danos no seu desenvolvimento. Ao almoço, descobri que um dos meus filmes preferidos estava a dar na televisão e, sabendo que a melancolia vinha aí, deixei-me estar a vê-lo na mesma - "Antes do Anoitecer". É implacável. Atinge-me o nervo da melancolia sempre que o vejo. Depois fui para o estágio, cumprir a minha rotina rotineira e, finalmente, fui ver o filme sobre o qual venho falar, com dois grandes amigos meus, que mais cedo ou mais tarde deverão ler isto. Agradecido pelo bilhete, pela companhia e por serem vocês. E também tenho que agradecer a outra pessoa pelos 20 minutos de atraso com que entrei no cinema - a minha monitora - que o diabo a leve para o raio que a parta!

"Up in the Air" conta-nos a história de Ryan Bingham, um homem que ganha a vida a despedir pessoas em empresas por todo o país (EUA), quando os patrões são demasiado cobardes para o fazerem. George Clooney interpreta este homem com a maior das naturalidades. Parece um reflexo dele próprio, numa realidade alternativa, em que ganha a vida nesta profissão em vez de fazer filmes e promover Nespresso. Ryan adora esta vida. Desligado de tudo o que o prenda à terra, não é um homem de família, nem sequer tem casa. Passa a vida a viajar de avião, de cidade em cidade, a dormir em hoteis. É assim que tropeça em Alex Goran, uma mulher que parece o reverso feminino dele próprio, ganhando a vida a viajar. Obviamente, a relação entre ambos vai crescendo, deixando de ser uma coisa física, tornando-se lentamente algo mais sentimental, entrando em conflito com o ideal de vida desenraizada que Ryan adora e apregoa. Entretanto, com a chegada da jovem Natalie Keener à sua empresa, Ryan pode deixar de viajar, uma vez que esta acha que a melhor forma de reduzir os custos da empresa é acabando com as viagens de avião de todos os seus trabalhadores e começar a despedir as pessoas por video-conferência. Cabe a Ryan treiná-la para esta função e mostrar-lhe que a tarefa de dizer às pessoas que perderam o seu emprego não é tão fácil e mecânica como ela pensa. Todos reagem de forma diferente, e a forma como eles conseguem ultrapassar tudo isso depende da forma como Ryan e Natalie lhes dão a notícia.

Jason Reitman (que já venceu o globo de ouro pelo argumento deste filme e deverá repetir a façanha nos oscares) é um realizador que já não tem nada a provar ao mundo. Com "Thank you for Smoking", "Juno" (outro dos meus filmes preferidos) e este "Up in the Air" mostrou-nos que consegue retratar os temas mais sensíveis com humor e a devida sensibilidade sem ser melodramático e lamechas. Este homem não faz telenovelas. Mostra-nos vida. Todas as suas personagens são cheias dela. Movem-se com naturalidade. Nada parece forçado. E com a sua banda sonora, é como se estivessem a dançar. Adoro a forma como filma, os enquadramentos. Deixa as personagens respirar. Dá-lhes espaço. A câmara não as tenta comer vivas, apenas as observa.

Fiquei melancólico porque Jason Reitman fez um excelente trabalho. Cada um de nós identifica-se com cada uma daquelas personagens. Com o solteirão bem-sucedido que se apaixona e apercebe-se da sua solidão. Com a jovem licenciada que tem o seu primeiro emprego e é confrontada com a realidade. Com a mulher que apenas procura um escape da realidade. E eu que, quando terminar o meu curso, corro o risco de fazer parte dos 50% de desempregados da Geração Zero, identifico-me com cada uma daquelas pessoas que de repente, sem aviso, se sentem completamente perdidas, sem saberem como manter as suas vidas a flutuar sobre a água.
Este é, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes do ano. Não o percam.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=_m-Da8Tz4_E
Cena do filme: http://www.youtube.com/watch?v=HXIbS1mVXUo&NR=1
Site Oficial (onde podem obter as músicas do filme): http://www.theupintheairmovie.com/